Especial do Cine Bosque de junho apresenta filmes representativos do movimento cultural. Sessão começa às 19h30, com entrada gratuita
Uma semana antes de os
Beatles lançarem ‘Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band’ e cinco meses antes de
Che Guevara ruir em La Higuera, na selva boliviana, o baiano Glauber Rocha
colocaria nas telas brasileiras de cinema uma obra que, em 1967, parecia um
delírio, mas que hoje pode ser vista como uma profecia do Brasil atual.
Listado entre os cinco
melhores filmes nacionais pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema e
vencedor de prêmios em Cannes e Havana, o longa-metragem Terra em Transe abre na próxima terça (5), no Sesc Thermas de Presidente Prudente, a mostra Tropicália, especial de junho do Cine Bosque. A sessão começa às 19h30, com entrada gratuita.
Filme – Terra em Transe
(BRA,
1967, 115 minutos. Drama. Direção: Glauber Rocha)
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O filme pode ser considerado
um espetáculo poético sobre o transe político pelo qual passam países da
América Latina. Considerado o mais importante e polêmico filme de Glauber Rocha
e um dos precursores do movimento tropicalista, ‘Terra em Transe’ revelou-se
premonitório: o Brasil de hoje é uma verdadeira terra em transe.
O herói da trama é o
poeta e jornalista Paulo Martins, vivido por Jardel Filho, especializado em
trabalhar para políticos. Na fictícia república de Eldorado, campanhas
políticas são polarizadas e confusas, como as que deram justificativa ao golpe
de 1964 e ao impeachment de Dilma Rousseff, em 2016.
Dois líderes populistas
disputam a Presidência: o religioso Porfírio Diaz (Paulo Autran) e o
ex-sindicalista Felipe Vieira (José Lewgoy). Paulo é assessor de Diaz, mas se
cansa com falsas promessas e passa a apoiar o opositor. Erra de novo. Como o
rival, Vieira jura combater a fome e governar “para todos”. Mas faz um pacto
com políticos e empresários desonestos, entre eles, Júlio Fontes (Paulo
Gracindo), o magnata da TV.
5 de junho,
terça-feira, às 19h30,
no Bosque do Sesc Thermas.
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Ao estrear em 19 de
maio de 1967 no Rio de Janeiro e ganhar o mundo, o longa de 105 minutos
alcançou repercussões controversas. Trazia a visão de um Brasil caótico e
urbano, inédito aos olhos dos estrangeiros. No Brasil, a recepção foi outra. Primeiramente,
a censura vetou a exibição, mas constatou que se tratava de uma sátira às
esquerdas, liberando-a. Os jovens militantes detestaram a história porque ela
revelava as insolúveis divisões da esquerda. Só perceberiam muito tarde que o
filme antevia a luta armada que os dizimaria nos anos 1970.
O roteiro final, fruto
de dois anos de pesquisa com quase 700 páginas escritas, foi só um resumo da
ideia original do autor. No rascunho datado de 1965, temas como homossexualidade,
religiões de matriz africana, críticas à Petrobras e trabalho escravo
integravam o projeto.
O diretor Glauber Rocha
(1939-1981) enfurecia tanto a esquerda como a direita. Além de satirizar ambas,
valia-se dos então detestados políticos liberais para patrocinar seus filmes.
Assim rodou o documentário “Maranhão 66”, para a campanha a governador de José
Sarney – que a descartou, por ser realista demais.
Fazia profecias, em
geral sobre o passado. “Ainda faremos filmes feios”, disse em 1970 para
valorizar a precariedade de “Terra em Transe”. Resumia assim a sua arte: “Uma
ideia na cabeça e uma câmera na mão”. Seu legado está em tentar compreender o
caos do Brasil para salvá-lo do atraso. Da crítica social de “Barravento”
(1962) à confusão de “Idade da Terra” (1980), passando pela alegoria “Deus e o
Diabo na Terra do Sol” (1964), deixou nove longas-metragens de ficção e oito
documentários.
Mostra
‘Tropicália’
Em junho, o especial
Tropicália apresenta filmes representativos do movimento cultural que
revolucionou a produção artística no Brasil, misturando manifestações
tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais.
Os tropicalistas
sacudiram a cultura brasileira e deram um passo à frente no meio musical
tupiniquim. A música brasileira pós-Bossa Nova e a definição da “qualidade
musical” no País estavam cada vez mais dominadas pelas posições tradicionais ou
nacionalistas de movimentos ligados à esquerda.
Contra essas
tendências, os tropicalistas universalizaram a linguagem da MPB, incorporando
elementos da cultura jovem mundial, como o rock, a psicodelia e a guitarra
elétrica. Ao unir o popular e o experimentalismo estético, as ideias
tropicalistas acabaram impulsionando a modernização não só da música, mas da
própria cultura nacional.
Ao longo do mês, a
mostra cinematográfica ‘Tropicália’ ainda exibe os filmes: O Bandido da Luz Vermelha (12/6), Macunaíma (19/6) e Deus e o
Diabo na Terra do Sol (26/6). O Cine Bosque também promove uma sessão
extra, no dia 13/6, com o filme Nise – O
Coração da Loucura. A exibição integra a programação do Cinepsiquiatria,
organizado pela Liga de Psquiatria da Faculdade de Medicina da Unoeste. Após a
sessão, haverá bate-papo com o médico psiquiatra Giovanni Lopes de Farias.
SERVIÇO
CINE
BOSQUE – MOSTRA ‘TROPICÁLIA’
Filme – Terra em Transe
(BRA,
1967, 115 minutos. Drama. Direção: Glauber Rocha)
Dia 5 de junho,
terça-feira, às 19h30.
No Bosque do Sesc Thermas.
Grátis. Classificação indicativa:
14 anos.
Próximos
filmes: O Bandido da Luz Vermelha (12/6),
Nise – O Coração da Loucura (Cinepsquiatria
– 13/6), Macunaíma (19/6) e Deus
e o Diabo na Terra do Sol (26/6).
AI
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